O megacólon em felinos é frequentemente decorrente de obstruções mecânicas, que podem evoluir para constipação refratária e comprometimento sistêmico. Nessas situações, processos infecciosos secundários podem ocorrer e, ao exame histopatológico, observa-se o fenômeno de Splendore–Hoeppli, caracterizado pela deposição de material eosinofílico radiado ao redor de agentes infecciosos, formando estruturas em roseta, comumente associadas a bactérias piogênicas, fungos e parasitas . Este trabalho objetiva relatar o caso de um felino com megacólon obstrutivo causado por uma massa pélvica associada ao fenômeno de Splendore–Hoeppli. Uma fêmea felina, sem raça definida, com dois anos de idade, apresentou histórico de obstipação, disquesia, hiporexia e distensão abdominal. O exame físico e radiográfico evidenciou grande acúmulo de fezes no cólon, sem outras alterações aparentes. Foi realizado enema sob sedação e, durante a palpação retal, identificou-se uma massa compressiva localizada dorsalmente ao reto. A radiografia contrastada confirmou tratar-se de uma massa extramural aderida à articulação lombossacral. Para melhor caracterização, foi solicitada tomografia computadorizada. Diante da gravidade do quadro e da indefinição diagnóstica, optou-se por abordagem cirúrgica com finalidade terapêutica e diagnóstica. Realizou-se celiotomia retroumbilical, com afastamento da bexiga e dos vasos da tríade ilíaca, permitindo a exposição da massa pélvica, que apresentava consistência firme e baixa vascularização. Procedeu-se à descompressão com auxílio de uma goiva, removendo fragmentos para exame histopatológico. Ressalta-se que o material para cultura e antibiograma não foi coletado. Após o procedimento, foi instituída antibioticoterapia com amoxicilina associada ao ácido clavulânico e metronidazol, além de anti-inflamatórios e analgesia. Entretanto, cinco dias após a cirurgia, o animal apresentou dispneia aguda, hematúria e evoluiu a óbito, indicando provável descompensação sistêmica. O exame histopatológico revelou inflamação piogranulomatosa associada ao fenômeno de Splendore–Hoeppli, caracterizado por
centro basofílico contendo bactérias e halo eosinofílico radiado circundado por neutrófilos, macrófagos e células gigantes multinucleadas. Esse tipo de reação é descrito como resposta imunológica exacerbada frente a bactérias, principalmente Streptococcus spp. e Staphylococcus aureus . O presente relato evidencia que massas pélvicas associadas ao fenômeno de Splendore–Hoeppli, embora raras em felinos, devem ser incluídas no diagnóstico diferencial de megacólon obstrutivo, sobretudo em pacientes jovens com constipação crônica e sinais de compressão retal. O caso destaca a importância do exame histopatológico na diferenciação entre processos infecciosos granulomatosos e neoplasias, bem como a necessidade de abordagem cirúrgica criteriosa e coleta de amostras adequadas para cultura microbiológica. Além disso, ressalta o potencial risco de evolução desfavorável e descompensação sistêmica, mesmo após intervenção terapêutica, reforçando a relevância do monitoramento intensivo no período pós-operatório.